O vaqueiro é um excelente profissional porque aprende a arte desde
criança, tendo assim à possibilidade de desenvolver a suas capacidade aos
poucos, de forma instintiva. O vaqueiro não só é um mestre montando o cavalo em
situações dificílimas, no alagado e na terroada, mas também um craque no
artesanato do couro, preparando ele mesmo nas noites de inverno e nas horas de
folga os seus apetrechos, caprichando à vontade.
A profissão de vaqueiro para os
ingênuos pode parecer uma moleza, coisa de analfabeto rude. Pelo contrário,
exige uma afinação muito grande de todos os sentidos que lhe permita reconhecer
as rezes que para os profanos são todas iguais, os sintomas das doenças, o
rastro do animal na terroada, manejar os apetrechos da profissão com grande
habilidade e sobretudo montar com mestria, fazendo do cavalo o seu mais
precioso colaborador.
A baeta era o elemento característico
do vaqueiro marajoara: uma capa muito simples, de feltro vermelho que vinha do
sul, feita na medida para a nossa terra. Na chuva era uma maravilha: o caboclo
por baixo ficava bem quentinho, sempre com uma grande liberdade de movimentos.
Para completar o figurino, na cabeça sempre o chapéu de palha, com um galho de
erva cheirosa por dentro
Até uns anos atrás a situação social do
vaqueiro era bastante precária, porque a maioria deles não tinha carteira
assinada e recebia o pagamento com o rancho cada mês. Não necessariamente era
uma situação ruim, dependia do dono que de fato podia tratá-lo como um membro
da família em caso de doença ou como o escravo. Sempre, porém ele estava numa
situação crítica e arriscada, na incômoda situação de quem não pode dispor de
dinheiro para as suas necessidades. Agora o vaqueiro conhece os seus direitos,
apesar de que às vezes ele fique vítima de padrinhos que o exploram em lugar de
defendê-lo.
O vaqueiro à moda antiga pertencia não somente
a outra geração e sim a outra época. O relacionamento dono-vaqueiro, vaqueiro
cidade (podemos bem dizer, o resto do mundo) eram substancialmente diferentes
filhos de vaqueiro era vaqueiro, eram poucos os que conseguiam libertar-se da
cerca que prendia bichos e homens, faltando o aliciamento das chamadas da TV,
vivia preso pelo serviço, o conhecimento profundo da natureza enchia o vácuo
das informações externas, para voar mais alto recorria à ajuda dos seus duendes
preferidos, como cabocla Mariana, custódio da boa vista e concluía satisfeito;
“mais do que Deus, ninguém!”.
O vaqueiro era um homem isolado fisicamente pelas grandes
distancias e espiritualmente pela falta de meios de comunicação. O programa de
rádio alô, alô interior (AM) era uma rede que unia todos os que moravam nos
campos e na cidade. Ocasionalmente as festas, sobretudo as religiosas,
conseguiam reunir todo mundo, com muita amizade e cerveja... natural!
Hoje, vaqueiro tem até procissão, com o Padroeiro dos Vaqueiros,
São Sebastião é homenageado no dia 20 pela manhã, com peregrinação montada
pelas rua da cidade, já tradicional que vem ganhando espaço e força para um
procissão cada vez com mais adeptos. E um dia antes (19) ocorre a famosa
corrida de cavalo marajoara, com os autênticos vaqueiros que vem representar as
fazendas que trabalham, disputando velocidade e tiração de argolinha.
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